sábado, 22 de outubro de 2011

Uma verdade incómoda

Acabo de chegar de uma aula na Universidade em que se abordou o tema da Responsabilidade Social. Depois de uma apresentação feita por uma pessoa ligada ao sector bancário, em que se expos, com dados concretos, as acções desta instituição no campo da Responsabilidade Social, passamos a uma fase de perguntas e respostas sobre o tema, que rapidamente se desviou para o actual contexto sócio-economico de crise em que vivemos.

Foi com alguma desilusão que ouvi as perguntas que se seguiram. Sempre num contexto de individualismo ou critica em relação à política de Responsabilidade Social da instituição em causa: Ora porque seria insuficiente, ora porque não contribuía directamente em áreas especificas como o ensino superior, apoiando ou não indivíduos ou instituições. A minha desilusão não terá sido tanto com o teor das perguntas, mas sim a envolvente contextual em que se inseriram, tornando o tema demasiado limitado. Senão vejamos:

- As perguntas foram sempre no sentido individualista de tentar descobrir como é que a instituição poderia contribuir para melhorar as condições de um ou mais indivíduos tendo em conta apenas o contexto em que estávamos inseridos (neste caso, estudantes e instituições do Ensino Superior)

- O tom critico com que se abordou a responsabilidade dos bancos, que existe, no actual cenário de crise sócio-económico, desvalorizando sempre o contributo individual de cada um, para que o estado da economia tivesse chegado a este ponto, que embora muito mais incomodo e inconveniente, também existe.

Infelizmente, este tipo de postura como que um “lavar de mãos” ou um (e aqui peço que perdoem o populismo da expressão) “venha a nós o Vosso Reino”, é a mais comum e abrangente, por motivos óbvios: é sempre mais fácil culpar os outros que assumir a culpa. Por muito pequena que possa ser.

Como pessoa de sangue quente que sou, não pode deixar de intervir, parafraseando um dos maiores Estadistas do século passado, que foi até então o mais jovem Presidente da maior economia do Mundo (à data) que disse:

“Ask not what your country can do for you, ask what you can do for your country”

Podemos argumentar que as suas acções no âmbito da sua política económica, demasiado virada para um ideal keynesiano, vieram de certa forma contradizer as suas palavras, no entanto a frase não deixa de ser oportuna e intemporal.

Numa geração demasiado habituada ao “facilitismo”, e contra mim falo, porque obviamente também me insiro nesta geração, é preciso que esta mentalidade de inércia de que o Estado tem de garantir uma série de critérios associados a um suposto bem-estar, desapareça.

É preciso que nos concentremos mais nos factores que podemos controlar e menos naqueles que estão fora do nosso controlo directo.

É preciso que sejamos mais exigentes, honestos e humildes connosco próprios.

Quando há uma abstenção superior a 50% como é que é possível que se exija responsabilidade aos políticos? Não que esta seja indispensável, mas para exigir alguma coisa aos outros não será preciso que sejamos mais exigentes connosco?

Como?

Aqui, volto um pouco atrás: nos concentrando nos factores que podemos controlar:

Controlando o crescente consumismo.

Sabendo ser responsáveis quando compramos, olhando por exemplo à origem dos produtos.

Sendo produtivos, mesmo quando podemos contra argumentar, e justamente, que os sucessivos cortes nos rendimentos de quem trabalha são desencorajadores, temos de ter a clareza de perceber que também nós contribuímos para esta situação, fosse contraindo créditos, consumindo produtos que têm apenas como premissa o “querer ter” em vez de consumir apenas por necessidade, adoptando uma postura mais “laxista”, porque quando as coisas estavam a correr bem, o acesso ao crédito era fácil, quando havia subsídios para tudo e mais alguma coisa ninguém estava verdadeiramente preocupado com o que isso significaria num futuro que se veio a comprovar ser de curtíssimo prazo. Porque ainda em 2009 o nosso Primeiro-Ministro nos garantia que tudo estava bem.

Ser responsáveis quando exercemos o nosso direito de voto numa democracia, que infelizmente, vive com ideais cada vez mais líricos.

O Estado deve de dar o exemplo: Sim. Claramente e sem a mais pequena dúvida. Mas quando nós, individualmente não damos o exemplo, quando mais de 50% da população não se preocupa ao ponto de dispensar exercer o seu direito básico de cidadania, quando temos salários baixos e queremos viver muito acima das nossas possibilidades, única e simplesmente porque achamos que temos direito, como é que podemos exigir responsabilidades a terceiros. Como? Com que moral?

Contextualizando: venho de origens muito humildes e nunca tive a perspectiva de seguir o ensino superior depois de finalizar o secundário. Sempre me foi difícil ter acesso àquilo que muitos dos meus colegas consideravam básico como um computador ou uma calculadora gráfica. Sempre tive noção das dificuldades e desde de muito novo que foi explicado com toda a clareza que se precisasse de algo – que não fosse o indispensável - teria de trabalhar para o conseguir. Felizmente, sei que não sou o único. Conheço muitos jovens e não tão jovens nas mesmas condições, que trabalham dedicadamente e que independentemente de gostarem ou não daquilo que fazem, fazem-no com brio. E são estas pessoas que me fazem ainda ter esperança que possamos, um a um, acordar de manhã, bem ou mal dispostos e alterar a ordem da pergunta que geralmente fazermos, para:

“O que é que eu posso fazer hoje, que contribua para um bem comum amanhã”

A vida não é um concurso de popularidade. Haverá os que ao ler o que acabo de escrever ficarão com a sensação de que adopto uma postura hipócrita ou paternalista, que sou lírico ao propor soluções que podem parecer à primeira vista utópicas ou ainda que demonstrem alguma falta de humildade.

Admito que esta possa não ser a resposta, admito ainda que possamos a falar de mudar algo imutável, mas há um facto que é indesmentível: Quando tudo o que temos andado a fazer até agora não resultou, não será esta uma oportunidade - talvez única - de alterar completamente a nossa maneira de pensar e tentar fazer desta ameaça uma oportunidade, quem sabe, talvez única, para tomar um caminho diferente?

P.S. – Aviso: A leitura deste texto pode-me tornar aos olhos do leitor num verdadeiro “mete nojo”.

P.S. 2 – Eu não me importo.

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